Aniversário do Recife e de Olinda: o que é verdade ou lenda urbana na mania de grandeza dos pernambucanos

- Cidades irmãs são conhecidas por terem a primeira faculdade de Direito, a primeira ponte do continente e a maior avenida em linha reta da América Latina. Do Portal G1.
Cidades gêmeas
Recife e Olinda são cidades vizinhas, ao sair de uma, você já entra no território da outra. Como fazem aniversário no mesmo dia, ficaram conhecidas como cidades irmãs. Seriam até gêmeas, por fazerem aniversário no mesmo dia: 12 de março.
Neste domingo, Olinda completa oficialmente 488 anos e o Recife, 486 anos de fundação.
Segundo o professor de história Paulo Chaves, porém, essa data é controversa.
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Vista aérea do Bairro do Recife, no Centro da capital de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo
“Olinda é datada de 12 de março de 1537. E, na realidade, o Recife só surge como vila em 1709. Então tem uma distância temporal aí grande. Mas devido aos conflitos, que eram constantes, ali no início do século XX, a Assembleia Legislativa propôs uma coisa curiosa: unificar as datas de aniversário de Recife e Olinda no dia 12 de março”, explica o professor.
De acordo com Chaves, não existe nenhum fundamento histórico para a escolha desta data como aniversário do Recife. “Foi uma proposta legislativa que foi votada e aprovada em plenário”, afirma.
Primeira ponte das Américas
O Centro do Recife é separado em ilhas por ser cortado por rios. Quando os colonizadores europeus chegaram à região, essa foi uma das primeiras questões com a qual eles se depararam. Por isso, construíram pontes pra facilitar na circulação de pessoas e mercadorias.
Foi assim que surgiu a ponte Maurício de Nassau, que seria a primeira do país.
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Ponte Maurício de Nassau, no Centro do Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
“É verdade. Não só a primeira ponte do Brasil, mas das Américas. Um projeto do conde Maurício de Nassau que, como um homem que tinha uma visão muito grande de mercado, de urbanismo, percebeu a necessidade de ligar o bairro de Santo Antônio à Ilha de São José”, diz o professor Paulo Chaves.
A obra de engenharia se tornou célebre por causa de uma invenção de Nassau, que administrou Pernambuco entre 1637 e 1644, quando a região estava sob o domínio dos holandeses (1630-1654).
Ele construiu a ponte com a ajuda financeira de senhores de engenho, que acreditaram na promessa dele de que faria um boi voar.
“No século XVII, pessoas que moravam nessa região tinham poucas opções de lazer, de cultura. [o argumento] Vindo de um homem da Europa, ligado à ciência, muitos acreditaram”, afirma o professor.
Na realidade, porém, Chaves conta que o episódio foi uma grande armação de Maurício de Nassau.
“Ele fez com que fosse colocado um cabo entre a Rua da Aurora e a Rua do Sol. Esse cabo recebeu um bezerro empalhado, com vários fogos de artifício. No cair da tarde, o bezerro foi lançado de um lado ao outro do Rio Capibaribe, com um belíssimo show pirotécnico”, detalha o historiador.
Na época, a ponte era feita de madeira, com pedras na sua fundação. Ela só passou a ter a configuração atual a partir de 1917. Por isso é considerada moderna, tendo pouco mais de um século.
Veneza brasileira e influência francesa
Depois da primeira ponte, a cidade passou a ter tantas outras pontes que a população começou dizer que mora na Veneza brasileira. Isso porque a histórica cidade italiana é famosa por ser cortada por canais e, consequentemente, atravessada por diversas pontes.
Também há quem divulgue que o Recife é a cidade brasileira com maior influência da arquitetura francesa, o que não é verdade.
Mas o Teatro de Santa Isabel, inaugurado há 173 anos, foi projetado por um arquiteto francês. Era um tempo em que a cultura francesa era muito admirada no Brasil.
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Interior do Teatro de Santa Isabel, no Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
O Mercado de São José, com quase 150 anos de existência, tem uma arquitetura em ferro inspirada num mercado público de Paris. Um projeto também de engenheiros franceses.
Carnaval
Em Olinda, um dos maiores motivos de orgulho é o carnaval. Depois de dois anos sem festa durante a pandemia de Covid-19, a cidade recebeu 4 milhões de foliões neste ano, com o tema “o carnaval dos sonhos”.
O influenciador Moacyr Walker, que mora no bairro de Rio Doce, em Olinda, diz que o carnaval da cidade é o melhor do Brasil.
“Não é querendo me gabar, mas aqui em Olinda temos Alceu Valença, Ceroula, os bonecos gigantes, Patusco”, lembra.
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O colorido nos bonecos gigantes no carnaval de Olinda — Foto: Léo Caldas/Titular Fotografia
O guia de turismo Carlos Alberto Pereira trabalha em Olinda e afirma que o Alto da Sé é a parte da cidade que ele mais gosta de apresentar aos turistas.
Ele admite, porém, contar uma “mentirinha do bem” aos visitantes: a de que Maurício de Nassau morou em uma casa vermelha e branca que fica na Praça de São Pedro, o que nunca aconteceu.
Nome de Olinda
Outra história famosa na cidade é sobre a escolha do nome Olinda. Antigamente, o local era conhecido como Marim dos Caetés.
Marim era o nome da cidade e caetés eram os indígenas que viviam na região antes de serem expulsos pela chegada dos portugueses.
Reza a lenda que o líder dos portugueses, o primeiro donatário da capitania de Pernambuco, chamado Duarte Coelho Pereira, chegou no ponto mais alto do povoado e, ao observar a vista, exclamou o nome ‘Olinda’.
“Quando ele avistou a bela vista, ele falou a frase: ‘Oh, linda situação para se construir uma vila’. Foi por esse motivo que a cidade passou a se
chamar Olinda”, diz o guia de turismo André Luís.
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Vista aérea da cidade de Olinda, em Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo
A história, porém, é falsa. A inspiração de Duarte Coelho teria sido outra.
“O que se acredita hoje, através de pesquisas, é que Duarte Coelho era muito ligado à literatura de um grande nome do teatro português chamado Gil Vicente. Em uma das novelas de Gil Vicente existia uma personagem chamada ‘Dolinda’. Então, provavelmente em homenagem a Gil Vicente, ele batizou aquela que viria a ser uma cidadela pelo nome de Olinda”, explica o professor Paulo Chaves.
Capital do Baobá
O escritor Evandro Duarte de Sá é autor de um livro chamado “O Melhor Livro do Mundo – 101 Manias de Grandezas de Pernambuco”
Segundo ele, o Recife é cheio de pontos históricos: a sinagoga mais antiga das Américas, na rua do Bom Jesus; a capital mais antiga do Brasil, que muita gente acha que foi Salvador.
“Mas aí descobri muitas outras. Por exemplo, no bairro do Jiquiá, nós temos a única torre de atracação do zepelin do mundo, que é um dirigível que vinha da Europa, da Alemanha, pro Recife”, ele diz.
Essa não é a única grandeza. De acordo com Evandro, Recife é conhecida como a capital de quase tudo: do frevo, do nordeste e até do baobá.
“Temos, segundo a prefeitura, 150 baobás espalhados pelo Recife, sendo 13 catalogados, bem cuidados. E isso, pro Brasil, é muito. A gente conta seis estados com baobá; em São Paulo foi plantado ‘agora’, em 2015. Então, a gente também valoriza essa quantidade de baobás que temos aqui em Pernambuco”, lembra o historiador Eduardo Castro.
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Baobá plantado na Praça da República, em frente ao Palácio do Campo das Princesas, no Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
Alguns dos baobás são enormes, podem viver até 6 mil anos. Sabe-se que a espécie veio de algum ponto da África.
A árvore mais conhecida é a da Praça da República, em frente ao Palácio do Campo das Princesas.
“Maurício de Nassau criou um jardim botânico privativo, particular. Esse jardim botânico era na Praça da República. E aí há a hipótese de ele ter trazido a árvore”, afirma Eduardo Castro.
Muitas lendas envolvem o baobá. Na Angola, se diz que é uma árvore de cabeça para baixo, com as raízes no topo e as folhas próximas ao chão. Essas folhas seriam capazes de ouvir a história da humanidade e guardar as memórias no tronco, que, por isso, é rico e grosso.
“Pro candomblé, é uma planta sagrada. É uma religião que é montada aqui, surgida aqui a partir dessa espiritualidade. E, pro candomblé, essa árvore é uma ligação com a África, com a terra-mãe”, lembra o historiador Eduardo Castro.
Observatório astronômico
Também é verdade que Pernambuco teve o primeiro observatório astronômico da América. Ele ficava onde hoje é a Torre Malakoff.
“Essa visão bastante avançada de Nassau do ponto de vista do interesse pela ciência e pelas artes, fez com que ele de fato instalasse aqui em Recife o primeiro observatório astronômico”, afirma o professor Paulo Chaves.
Faculdade de Direito
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Mosteiro de São Bento, em Olinda — Foto: Reprodução/TV Globo
Olinda também foi a sede a primeira faculdade de direito do país.
“Ela foi fundada, inclusive, pelo imperador Dom Pedro I para, justamente, atender as demandas da aristocracia açucareira. Inclusive, ela funcionou durante muito tempo no Mosteiro de São Bento”, diz Chaves.
De lá, a faculdade foi transferida para o prédio onde hoje funciona a prefeitura de Olinda. E, posteriormente, para o um edifício histórico em frente ao Parque Treze de Maio, no Recife.
Oceano Atlântico
O Recife é conhecido pelas suas praias e pelos seus rios. Mas na Rua da Aurora, no Centro da cidade, um espaço criado pela prefeitura diz que é ali que nasce o Oceano Atlântico, fruto do encontro entre as águas dos rios Capibaribe e Beberibe.
O professor Paulo Chaves, porém, diz que não é bem assim.
“A não ser o aspecto da mania de grandeza do povo pernambucano, que é bem conhecida. Mas é uma lenda, um folclore bem local, que o Atlântico nasce a partir do Capibaribe e do Beberibe juntando as suas águas”, argumenta.
Avenida Caxangá
O principal símbolo da mania de grandeza pernambucana é a Avenida Caxangá, no Recife.
“Falaram que é a única avenida que não tem curva. Ela é reta. Aí se tornou a maior avenida do Brasil em linha reta. Alguns falam que é do mundo, mas eu não tenho certeza”, conta Givanildo Pereira da Silva, administrador do mercado do cordeiro.
A comerciante Irene Gomes diz que já ouviu falar que a avenida é a maior em linha reta da América Latina, embora admita que não há comprovação. “Mas é grande mesmo”, lembra.
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Avenida Caxangá, na Zona Oeste do Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
A Avenida Caxangá tem 6,2 quilômetros de extensão. Corta os bairros da Madalena, do Zumbi, do Cordeiro, da Iputinga, da Caxangá e da Várzea.
A principal rival pelo título é a Avenida Joaquim Teotônio Segurado, que fica em Palmas, no Tocantins, e tem 26 quilômetros.
A via tem um trecho em linha de reta de cerca de 10 quilômetros, embora não seja totalmente reta, como a Caxangá.
Comento, argumento. Só não invento!
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