
*Por Adolfo Sachsida.
Entre tantos silêncios constrangedores que marcam o Brasil de hoje — da OAB, da ABI, da Rede Globo e de diversas instituições outrora defensoras da liberdade —, talvez o mais doloroso seja o silêncio da Igreja Católica, de seus bispos e padres, diante das injustiças cometidas na esteira dos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023. Com raras, corajosas e honrosas exceções, a Igreja tem preferido fingir não ver o que está diante dos olhos de todos.
A desculpa mais comum é a de que “a Igreja não se envolve em política”. Mas é preciso dizer com clareza: não se trata de política — trata-se de justiça, de misericórdia e de verdade. A Igreja Católica nunca se calou diante da opressão. Acaso São João Paulo II silenciou frente aos horrores do comunismo no Leste Europeu?
Acaso nossa Santa Igreja não ergueu a voz pela anistia de 1979, quando tantos brasileiros estavam presos, perseguidos e exilados? Naquele tempo, nomes como Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Hélder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Tomás Balduíno e Dom José Maria Pires se ergueram em defesa da anistia. Sob a liderança de Dom Aloísio Lorscheider e Dom Ivo Lorscheiter, a CNBB apoiou a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita.
O que mudou de lá para cá? Apenas o lado dos anistiados. Em 1979, a Igreja defendeu a anistia de terroristas, assassinos e assaltantes de banco, porque via neles antes de tudo seres humanos, filhos de Deus. Hoje, quando se trata de pessoas comuns — homens e mulheres que protestaram contra um governo com o qual discordam —, a maioria dos bispos se cala, se omite, se esconde.
Os presos do 8 de janeiro não são terroristas, nem assassinos, nem ladrões. são cidadãos que exerceram, ainda que de forma desorganizada, o direito de manifestação. Atos semelhantes foram cometidos inúmeras vezes pela esquerda ao longo da história recente — nos “Fora Collor”, “Fora Itamar”, “Fora FHC”, “Fora Temer”, “Fora Bolsonaro” —, e nem por isso milhares foram presos, muito menos condenados a penas desumanas.
Será que preciso recordar os episódios em que manifestantes de esquerda depredaram prédios públicos e incendiaram a Esplanada dos Ministérios, como ocorreu em 24 de maio de 2017? Imaginem se naquele dia 1.200 militantes de esquerda tivessem sido presos, mantidos meses sem acusação formal, e depois condenados a 17 anos de prisão sob a acusação de “tentativa de golpe de Estado”. Qual teria sido, então, a reação da Igreja?
É triste constatar que, diante do sofrimento atual, a Igreja Católica prefere o conforto do silêncio à coragem da verdade, escudando-se no argumento falso de que “anistia é assunto político”. Não é. A anistia é um ato de humanidade, de misericórdia, de reconciliação e de pacificação nacional. E a Igreja, fiel à sua tradição, tem o dever moral de se colocar ao lado da misericórdia e contra a opressão.
Padres e bispos católicos, escutem novamente a pergunta que ecoa há dois mil anos:
“Quo Vadis, Domine?” — Para onde vais, Senhor?
Será preciso que Cristo volte a se sacrificar para defender suas ovelhas abandonadas? Honrem a herança da Igreja, defendam o vosso rebanho, ergam a voz pela anistia e pela paz. Lembrem-se: “A quem muito foi dado, muito será exigido.”
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*Como se não bastasse e bem ao contrário da postura da Igreja, no passado, o vice-presidente da CNBB e Arcebispo de Olinda e Recife, dom Paulo Jackson manifestou-se publicamente contra a Anistia, fazendo coro aos que, apesar de beneficiários da anistia, no passado, agora são contra. Não por menos que se diz que, a Igreja Católica não é a mesma, no Brasil.




